quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Até logo


[...]

Tentando arrumar a bagunça do quarto, ele se deparou com um velho cd.
Certa vez conhecera uma menina doidinha, daquelas descoladinhas: toda errada.
Perfeita?!
Aquelas músicas todas hoje não fazem sentido pra ele. Fato.
Eram apenas recordações.
Mas aquelas recordações o tocaram.
O sensibilizaram.

Por descuido, sentiu seus olhos marejados.
Envergonhou-se por tal banalidade.

Sentiu a necessidade de escutar aquele velho cd.
Criou expectativas. O que mais poderia lhe reservar essas lembranças esquecidas.
O cd estava todo riscado. Logo na primeira música ele travou. Dois únicos versos.

"Você só me fez mudar
mas depois mudou de mim"



Rapidamente o "stop". Sacou o cd. Sorriu.
Visualizou o exato momento em que seu coração se despedaçou naquele pequeno parque.
Lembrou dela. Lembrou do primeiro amor.
Pensou que poderia escrever um romance daquela inspiração.
Em seguida, envergonhou-se. Novamente.
Olhou para o teto de seu quarto. Olhou a sua volta.
Afirmou e questionou:

Ainda há coração. Ainda há amor. Por que, então, aquela emoção? Do que sentia saudade?

Suspirou. Mexeu em outros livros antigos. Deles, cartas caíram.
Em meio o infinito particular, escutou sua mãe se aproximar.
Era seu último dia naquela casa. Ela viera perguntar o que ele queria levar.

Disse: nada.

Queria toda aquela exatidão.
Sempre. Um refúgio.
Suas toscas nostalgias.
Não abriria mão daquele universo. Daquele infinito.
Independente do seu valor (tinha noção que era quase nenhum).
Sua única amarra.

Ao fechar a porta daquele quarto teve uma única certeza.
Voltaria.
Deveria esquecer tudo aquilo para poder lembrar.
E quando lembrar, sentir novamente aquelas sensações.
Como se fossem inéditas.
Eram suas dores, seus sofrimentos, suas lágrimas, seus amores, suas paixões, suas tolices.
Eram elas que o acompanhavam. Elas que o construíram.
Era tudo seu e ninguém poderia compartilhar disso.
A solidão de uma juventude adormecera naquele dia.
Docemente ele iria se esquecer. Para sempre lembrar.

[...]




6 comentários:

Unknown disse...

sweet memories

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

nossa, por algum motivo, uma palavra chave talvez, me veio essa musica(idiota) na minha cabeça.

"They say that time, will make all this go away
But it's time that has taken my tomorrows and turned them into yesterday"

walk away - ben harper ;s

Adrielly.Nascimento disse...

profundo,quase chorei ;(

Adrielly.Nascimento disse...

profundo,quase chorei ;(

Unknown disse...

Emocionante. O momento do desapego, do apego, da fuga e da busca é algo complicado. Complexo demais pra mim. Me reconheci nesse texto. Genial! Congrats!