domingo, 4 de outubro de 2009

Intensidade - parte I


Ele seguia em frente como se soubesse exatamente que não era dalí. Falava, gesticulava, articulava, esclarecia e respirava tudo - absolutamente tudo - e, mesmo assim, não lhe diziam o menor fascínio.

Fazia porque era hábito fazer.
Vivia porque era hábito viver.
Sentia porque era hábito sertir.

Fazia do hábito uma prática diária cotidiana redundantemente insatisfatória. Mas seguia. Era seu hábito.

Por mais que ele quisesse ser diferente, não conseguia. Estava pragmático. Programático. Estático. Via tudo a sua frente geometrizado. Só não via mais graça, tédio ou angústia porque como já se sabe: era seu hábito.

(Todavia, como se faz aqui uma ficção nada conveniente em ser um hábito de quem a produz)

Sonhava...

Um dia todo pra si reiventar. Desconstruir. Ele olhava a sua volta. Fez das mãos um instrumento de percurssão. Seguia as batidas do coração. Elas aceleradas. Porque não era hábito sonhar. Via um tempo ameno, céu azul, natureza em harmonia com seus desejos. Os desejos se faziam misteriosos, eróticos e inéditos. Os perfumes, os olhares, as moças bonitas. Tudo inspirava. A música acelerava e ele de repente e não mais que de repente sentia que dessa vez valeria a pena.

Quebrar aquela rotina criada para esconder a decepção que foi perder para si mesmo. A derrota que foi reconhecer que era humano ridículo e limitado. Ela... humana, ridícula e limitada, parecia bem mais. Infinita dentro de sua normalidade. Lembrará sempre dela, àquela normalidade o tornará dor. Ele fez assim. Transformou aquele fato em trauma. Entretanto não era momento. Aquilo poderia ser diferente. E seria. O hábito é que não existia tempo.

Quando de repente e novamente de repente, se fez o hábito fatídico de se acordar. E o cotidiano é o que nos resta.

Levantou porque era hábito levantar.
Definiu o sonho como uma piada sem graça como era hábito definir.
Olhou no espelho porque era hábito olhar.
Desistiu de sua cara porque era hábito desistir.

Um comentário:

Anônimo disse...

Faço um comentário destinado a ninguém que se importe:Na minha humilde opnião a música dos Engenheiros do Hawaii,chamada Dom Quixote relaciona-se com este texto,porque mostra que deveríamos viver nossos sonhos e não se importar com o motivo ou o que vão pensar,Temos SEMPRE que ir à luta..HoJE somos reféns do tempo,temos rotinas massantes e péssimos hábitos e não mudamos de atitude por sermos conformados...viva com INTENSIDADE! OUSE e talvez SEJA FELIZ!!