quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Ensaio


Regresso - Parte III

A carteira de cigarro está acabando. A dor de cabeça aumentando. Não há remédios. Maria não aparece. A casa está uma bagunça. Há uma mulher ensanguentada no meu sofá. A situação é problemática.

Ao encontrar aquele material dentro da bolsa dela, relembrei de meu ofício. Há algum tempo deixei de lecionar. Lecionei por algum tempo em uma universidade católica regida por um viés qualquer da Igreja. Lembro-me que pagavam bem. Lembro-me da literatura. Lembro-me que adorava o status de prefessor. Lembro-me que me esqueci disso, também, há algum tempo. Lembro-me que por alguma razão comecei a fumar. Lembro-me que ao invés de remédios, eu bebo para curar a dor. Lembro-me que o estrago agora fazia parte de mim. Lembro que esqueci qual era a dor. Lembro-me de uma figura de linguagem chamada paradoxo.

O sol estava alto. Minhas cortinas não estavam nas janelas. Muita luz, agora, me incomoda. Vejo bem o rosto da mulher. Ela não é bonita. Tem um nelo corpo. Ela não é bonita. Há de ser pelo seu nariz que está torto devido aos socos. Puta merda... bati em uma mulher. Provavelmente uma aluna. Mas há tempos eu não leciono. Por que, afinal, uma aluna estaria em meu quarto? Eu só transo com putas agora. Maldita dor de cabeça. Ela não me deixa pensar. Eu dei socos em uma mulher e nem percebi. Não. Eu percebi. Bati e gostei. Porém antes, ela era uma puta. Agora é uma ex-aluna. Isso vai ser muito problemático.

Ela começava a recuperar a consciência. Abriu os olhos. Arregalou-os. Começou a chorar em silêncio. Com certeza estava com medo. Levantei e fui buscar água para ela. Não sei o por quê. Sei que água em nada adiantará. Mas não poderia oferecer minha vodka para ela. Não que eu não oferecesse bebidas as minhas convidadas, porém eu precisaria me manter bêbado pelo resto do dia. Fui até a cozinha e deparei-me com o espelho do corredor. Minha aparência era a pior possível. Olhos fundos, barba "por fazer", camiseta manchada de vômito. Eu não me lembro quando cheguei a este estado. Só me lembro de ter esquecido. Eu era o próprio estrago. Voltei à sala. Ela chorava e o rosto inchava. Ela estava ficando grotesca. Grotesco... uma alegoria literária dos romances fantásticos ingleses. Literatura, como era bom...

- Você gostava das minhas aulas?

- Senhor, por que me bateu?! Não entendo? O senhor nunca foi assim!

- Assim como? As aulas eram tão ruins ou eu não mostrei meu lado "grotesco".

- Trabalho a um ano e meio pro senhor, nunca nem falou comigo... Por que, senhor? Óh meu Deus...

- Deus!? O que Ele poderá fazer........................................................Ahhhh Merda! É você, Maria
?!...

[...]

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom!!!

Adrielly.Nascimento disse...

Ri muiiiito hahahahaha.Tadiinha da Maria